MOBILE LEARNING: NOVOS CAMINHOS PARA O PROCESSO DE
ENSINO E APRENDIZAGEM
ABREU,
Adelmo Ferreira de.*
BARRETO,
Robério Pereira.**
RESUMO: Neste artigo se busca refletir acerca de resultados
de uma pesquisa realizada com estudantes do 9º ano do ensino fundamental das
escolas públicas de Irecê e região, referente à utilização de novas tecnologias
digitais móveis e sem fio para produzirem e socializarem mensagens de textos. Neste
processo, objetiva-se compreender como as novas tecnologias podem contribuir para
o processo de ensino e aprendizagem através de práticas pedagógicas voltadas
para a dialogicidade, a partir das quais o professor assume o papel de mediador
na construção do conhecimento. Diante
disso, materializam-se inquietações sobre como aplicar em sala de aula essa
nova prática pedagógica, levando em consideração todas as dificuldades oriundas
das novas tecnologias, e como superar as dificuldades em desenvolver e
vivenciar práticas pedagógicas efetivamente inovadoras dentro das instituições
de ensino. E é justamente por essa linha de investigação que se pretende seguir
para propor uma reflexão sobre as possibilidades de inovação no trabalho do
professor.
PALAVRAS-CHAVES:
M-Learning, Aprendizagem, Ensino e Educação.
1. Introdução
Um
dos desafios do século XXI é encontrar novos caminhos para tornar os
profissionais cada vez mais preparados para diagnosticar, buscar respostas e
solucionar problemas. Viver e conviver em um mundo cada vez mais globalizado e
informatizado, conectado em uma grande rede, traz consequências importantes no
processo de ensinar e de aprender, tanto nos contextos formais quanto nos contextos
não formais de educação.
Em
meio a tudo isso, percebemos que a escola ainda não se encontra preparada,
logo, as novas tecnologias precisam ser melhor compreendidas, melhor avaliadas
para ampliar e adequar as práticas pedagógicas e também o processo de ensino e
aprendizagem, visando à formação deste novo sujeito para suprir a demanda do
mercado de trabalho. Essa nova realidade aí instalada exige novos métodos e
maneiras de se trabalhar em educação, mas também, a maneira de preparar o
sujeito para a sociedade, para o mundo do trabalho e para o aprendizado
contínuo.
O
presente trabalho tem como metodologia a pesquisa bibliográfica, tomando como
base uma pesquisa elaborada nas escolas municipais da microrregião de Irecê.
Estudos sobre práticas educacionais e aprendizagem significativa no contexto
das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC)
correspondem a todas as tecnologias que interferem e medeiam os processos
informacionais e comunicativos dos seres. Nesse contexto se inclui também o
M-learning, termo que, segundo Saccol (2011), é um conceito atual, não havendo
consenso nem mesmo nos centros acadêmicos a respeito de sua significação. Propondo
uma melhor definição, Saccol (2011, p. 25) apresenta o seguinte conceito:
O m-learning (aprendizagem móvel ou com mobilidade) se
refere a processos de aprendizagem apoiados pelo uso de tecnologias da
informação ou comunicação móveis e sem fio, cuja característica fundamental é a
mobilidade dos aprendizes, que podem estar distante uns dos outros e também de
espaços formais de educação, tais como salas de aula, salas de formação
capacitação e treinamento ou local de trabalho.
A partir destes conceitos, partimos para um trabalho de pesquisa para o
qual foram entrevistados em média 10 alunos do 9º ano do ensino fundamental das
escolas municipais de Barro Alto, Canarana, Ibititá, Irecê e São Gabriel. Para
cada aluno entrevistado foi feita a seguinte pergunta: Quando você envia
mensagem de texto pelo celular, você aprende alguma coisa? Sim ou Não? Por quê?
A partir desses questionamentos, buscamos identificar que a compreensão
de que os dispositivos móveis usados pelos jovens das escolas públicas de Irecê
e Região são considerados por nós, nessa pesquisa, como a base instrumental
para o processo sociossemiótico. Isso certifica a comunicação que, por sua vez,
assegura aprendizagens para além daquelas postuladas pela escola.
Assim desenvolveremos, neste contínuo, a seguinte perspectiva: os
dispositivos móveis são instrumentos competidores, e não concorrentes, de
interação e comunicação e, portanto, levam a M-Learning. Firmamos que o debate
é parcialmente filosófico com enclaves linguísticos, educacionais e pedagógicos,
voltados aos aspectos tecnológicos da educação contemporânea e em rede.
Em seguida
partimos para uma nova abordagem, que é como utilizar, de maneira significativa,
a habilidade que estes alunos de escolas públicas têm de forma a contribuir com
as práticas pedagógicas aplicadas em sala de aula. E neste ponto encontra-se uma
série de obstáculos que se enfrentam quando se pretende inovar na implantação
de novos métodos que facilitam a aprendizagem.
Buscamos
compreender o processo de ensino e aprendizagem como um processo de construção
e reconstrução, tomando consciência do conteúdo abordado por meio dos erros e
acertos, e não como na educação conservadora, na qual o professor é o centro e
dono do conhecimento e simplesmente o transfere ao educando.
2.
Fundamentação teórica
Para compreender todo esse processo de
ensino e aprendizagem com base nas novas tecnologias, fomos buscar uma
compreensão do que venha a ser o ciberespaço. Segundo Santaella:
O
ciberespaço se refere a um sistema de comunicação eletrônica global que reúne
os humanos e os computadores em uma relação simbiótica que cresce
exponencialmente graças à comunicação interativa. É o espaço que se abre quando
o individuo acessa a rede. Por isso mesmo, esse espaço também inclui os
usuários dos aparelhos sem fio, na medida em que esses aparelhos permitem a
conexão e troca de informação (SANTAELLA, 2004, P. 45).
A partir desta definição do que venha a ser o ciberespaço, partimos para
entender como se dá o aprendizado por meio do uso das novas tecnologias, uma
vez que, por meio deste aparelho celular, é possível acessar todas as redes
sociais, tendo este quase a função de um computador de mão.
Segundo Graziola Júnior (2009) na perspectiva da educação digital, numa
concepção interacionista, o aluno deixa de ser o receptor de informações para
torna-se o co-responsável pela construção de seu conhecimento, usando o celular
e diferentes tecnologias digitais para buscar, selecionar, interrelacionar
informações significativas na exploração, reflexão, representação e depuração
de suas próprias ideias, de acordo com seu estilo de pensamento.
Ainda a respeito de como se dá a aprendizagem para Saccol (2011) no m-learning, a informação, a aprendizagem
e o conhecimento surgem num imbricamento.
Logo, em determinados momentos, o indivíduo, ao se sentir perturbado por alguma
situação externa, busca informação e, a partir disso, articula-se rapidamente
com seus pares, nas redes das quais participa, de forma que possa construir o
conhecimento relativo àquela situação, ou seja, aprender.
Nesta concepção a aprendizagem se dá nas relações sociais nas quais o
sujeito se insere. Para Saccol (2011) não basta termos acesso ao conteúdo em
qualquer lugar e a qualquer momento, pois, para que a aprendizagem ocorra, é
necessário que o sujeito tenha espaços e tempos hábeis para ler, estudar, agir
e interagir. As mudanças tecnológicas por si só não provocam variações na
educação, mas a forma como as pessoas vão utilizá-las é que vai provocar esta
transformação.
Os professores devem estar atentos à forma como os alunos utilizam as
novas tecnologias e orientá-los no sentido de melhorar o acesso às informações,
buscando um melhor aprendizado por parte deles. Só a partir daí teremos
cidadãos capacitados de maneira significativa para pensar, solucionar problemas
e viver em uma sociedade completamente informatizada, de forma consciente,
podendo desfrutar de todos os recursos que ela oferece.
Saccol (2011) afirma ainda que só assim pode se pensar em novas práticas
pedagógicas pautadas nas teorias que fundamentam a aprendizagem e o
desenvolvimento humano. Nesta mesma linha de raciocínio, Graziola Júnior (2009)
pontua que, ao compreender a ação pedagógica como articulada a uma educação
como prática social e ao conhecimento como produção histórica e cultural,
datado e situado, entendemos que a educação precisa necessariamente contemplar,
em suas práticas pedagógicas, o uso de diferentes tecnologias digitais.
Macedo (2005) ratifica que os novos tempos e espaços proporcionados pelo
virtual favorecem um novo fluxo de discussões e reflexões acerca das temáticas
propostas, que é o ensino a distância. Diante disso, busca evidenciar que,
diante do novo contexto social, não se pode imaginar uma educação que não
esteja interrelacionada com as novas tecnologias. Para este autor, a
aprendizagem não significa aprender porque alguém transmite o conhecimento, mas
sim um processo de fazer e refazer num jogo árduo de erros e acertos, culminando
em uma tomada de consciência do próprio desenvolvimento por parte do educando.
Alexandra Lorandi Macedo (2005) esclarece que o acesso não linear, a
bifurcação dos assuntos desenvolvidos, a releitura e o igual poder de
argumentação dado a todos que pertencem ao grupo proporcionam uma mudança de
comportamento. É nesta mudança que se vai provocando uma nova maneira de se
ensinar e de aprender e é neste ponto que entra a nossa discussão de que o
aluno, ao enviar e receber mensagem através de seus aparelhos celulares, passa
a construir um conhecimento. No entanto, é necessário que haja uma mudança
radical tanto na formação do professor, quanto na infraestrutura das escolas,
para que se possa acatar essa nova realidade.
A trama de interações construída no virtual faz com que o processo de
aprendizagem de cada indivíduo seja respeitado. Para tanto é necessário que
todos os envolvidos no processo da educação estejam dispostos a se envolver
completamente nesta mudança.
Com efeito,
através dos diálogos com teóricos da Educação, das TIC e da Linguagem, bem como
da interpretação de dados oferecidos pelos participantes através de suas
informações verbais e das produções escritas na web, espera-se apresentar uma proposta metodológica fundamentada
epistemologicamente no conceito de novos estudos de letramento. O propósito é
refletir sobre a possibilidade do reconhecimento de que os estudantes –
nascidos digitais – devem ser orientados para novas práticas de leitura e
escrita em que o uso do computador e da internet facilitem práticas
interacionais e dialógicas com os professores.
3. A aprendizagem: necessidade de
novas práticas com os dispositivos
Este texto
nasce de inquietações sobre a não utilização efetiva de dispositivos móveis por
parte dos professores da educação básica das escolas públicas de Irecê - BA e
Microrregião. No presente contexto histórico, é considerável a popularização de
equipamentos móveis, tais como telefones celulares, smartphones, aparelhos de
MP3, MP4, tablets, entre muitos outros,
como instrumentos tecnológicos facilitadores de aprendizagem e
interação entre estudantes e a escrita presente na web. Diante dessa realidade, é relevante compreender em que medida
práticas pedagógicas com gêneros textuais múltiplos produzidos no, para e pelos
dispositivos móveis ampliariam os horizontes de estudantes e professores no que
diz respeito a práticas diversas com textos e de que modo as práticas
pedagógicas até então usadas pelos professores potencializam a escrita e a
leitura de textos na e da web pelos
estudantes. Segundo Saccol (2011, p. 18), as novas tecnologias:
[...] oferecem um conjunto
de possibilidades para a aprendizagem, permitindo, por exemplo, nossa interação
com professores ou instrutores, bem como colegas ou outros indivíduos com os
quais desejamos trocar informações, compartilhar ideias e experiências ou
resolver dúvidas. Além disso, podemos acessar uma vasta gama de recursos e
materiais didáticos, incluindo não somente texto, mas também imagem, áudio,
vídeo, além de todas as possibilidades de integração de múltiplas mídias.
Podemos inclusive utilizar toda a ampla gama de recursos que a internet nos
oferece para aprendizagem, incluindo e-books, artigos, vídeos, notícias
on-line, conteúdos de blogs, microblogs, jogos etc.
Como podemos
observar, são infinitas as possibilidades de aprendizagens que esta nova
realidade social nos oferece. A questão central agora é se o professor está preparado
para esta nova realidade. Também é relevante investigar se a infraestrutura
educacional do nosso país tem capacidade ou interesse de acompanhar todas essas
modificações. Todavia, não se pode deixar de considerar que os alunos estão
vivendo esta nova realidade um passo à frente da realidade em que vivem boa
parte dos professores.
Podemos
observar certo interesse de governantes, quando estes desenvolvem projetos nos
quais buscam incluir digitalmente os alunos das redes públicas. Um destes é o
UPA (um computador por aluno), mas em alguns casos esses computadores chegam e
ficam sem uso por falta de professores preparados para manuseá-los.
É consenso o
entendimento de que, por meio das novas tecnologias da comunicação, se criou um
ambiente de interação e comunicação global, portanto, esse novo contexto
permite a reformulação de conceitos e técnicas de pesquisa, ensino e
aprendizagem. Assim os cenários educacionais são construídos por um conjunto de
variáveis que os definem. A entrada em cena dos dispositivos móveis modifica
radicalmente as velhas variáveis e leva os processos educacionais e
comunicativos para além das paredes da escola. Isto certamente leva ao
deslocamento dos procedimentos de pesquisa baseados em modelos cristalizados
pela etnografia ortodoxa.
Ao
enviar ou receber uma mensagem de texto, o aluno escreve ou lê, decodifica,
interpreta, participa, mobiliza seu intelecto de muitas maneiras, fazendo com
que o processo de aprendizagem aconteça. Para Saccol (2011, p. 20) “os
aprendizes não mais precisam ficar limitados a um espaço fixo ou formal de
aprendizagem”, enquanto que a maioria dos professores das escolas públicas não
aceita sequer que os alunos liguem os seus aparelhos celulares dentro das salas
de aula. Estes mesmos professores ministram suas aulas presos no passado com
uma metodologia de ensino ultrapassada, tornando os momentos em classe pouco
produtivos para o aprendizado dos alunos.
O
fato de pertencer a uma comunidade de interação e interpretação de unidades
semiótica e textual, os jovens que utilizam os dispositivos móveis para
interação on-line provocam, nos
outros agentes comunicativos, aprendizagens emuladoras de sentidos, visto que
ambos são estimulados, a cada mensagem, a refletir sobre o tema proposto. Os
dispositivos móveis à disposição dos estudantes constituem-se, portanto, como instrumentos
cuja produção resultante é a interação verbal e comunicação contínua, através
da qual novos aprendizados são compartilhados.
Diante
do exposto, parte-se da premissa de que a sociedade contemporânea, organizada
nos fundamentos das TIC, tem desconstruído vários paradigmas e ideias,
inclusive a de educação centrada somente na figura do professor, bem como o modus
de adquirir e produzir linguagens escritas, restringindo-se ao âmbito das
aulas de redação. Essas posturas têm sido confrontadas pela prática cotidiana
de interação escrita dos estudantes através do acesso ao computador e celular.
Segundo
Saccol (2011, p. 100), o m-learning
vai adquirindo diferentes nuanças, tão
diferenciadas e específicas “quanto as possibilidades tecnológicas,
epistemológicas e metodológicas evidenciando diversas formas de atividades e situações
pedagógicas para impulsionar o desenvolvimento cognitivo, sociocognitivo e
metacognitivo dos sujeitos”.
De acordo com Barreto (2005), o texto
produzido por meio de dispositivos móveis carrega em si (e, como ele, significa
e adquire) aquele significado outro, posto que os não-ditos presentes na
linguagem constituem um novo centro de compreensão para o sujeito. Este, por
sua vez, interpreta a mensagem de um lugar histórico e a reconfigura de acordo
com as suas realidades, em virtude de haver, nos dispositivos móveis, a conexão para a web. Desse modo, o espaço virtual passa a ser
disponibilizado para a prática de leitura e de escrita sem que,
necessariamente, se aplique o rigor das redações escolares, tampouco se exige a
presença do professor como único conhecedor e controlador do que pode e o que
não pode ser escrito ou lido.
Os
dispositivos móveis nos quais a web,
por meio de redes sociais, possibilita ações de letramentos são múltiplos. Isto
leva à inquietação que se evidencia em professores que não acompanham as
mudanças no modo de ler e de escrever dos estudantes conectados ao mundo
digital. Essa inquietação poderia ser aproveitada para a inclusão docente
nessas novas atividades de ensino se a escola já tivesse tomado tais produções
como práticas contemporâneas de socialização de conhecimentos diversos (M-Learning),
nas quais as ações interativas entre
sujeitos acontecem por meio da efetiva produção textual em rede.
Em
virtude da complexidade da questão, objetiva-se estabelecer os pontos de tensão
existentes na prática pedagógica dos professores – imigrantes digitais – que,
atuando de modo racionalista, realizam suas atividades de ensino de leitura e
de escrita, baseando-se no racionalismo da gramática da língua: começo, meio e
fim. Por outro lado, os estudantes –
nascidos digitais – praticam leitura e escrita na web de maneira dialógica, a partir da qual não há linearidade de
leitura, tampouco simetria no raciocínio escrito, o que propicia a constituição
de novos códigos.
Dessa
maneira, a investigação baseia-se nos princípios da dialogicidade e da
interação com os dados e os participantes da investigação, de modo que estes
últimos determinaram a metodologia da pesquisa, porque foram agentes autorais
de suas escritas. Isso, de certo modo, nos levou a transitar entre a etnografia
clássica e a virtual.
Nesta senda
se tem como expectativa que professores do ensino básico das escolas públicas
interatuem com práticas de leitura e escrita, realizadas pelos estudantes na Web. Com isso terão ampliadas suas
bagagens teóricas e metodológicas, bem como poderão articular práticas pedagógicas
inovadoras voltadas ao ensino de leitura e escrita para além do espaço fechado
de sala de aula. Isso propicia modificar o cenário de aulas de redação
desarticuladas da realidade social e cultural dos aprendizes, autores e
produtores de textos cujos sentidos incluem uns aos outros no sistema
comunicacional da web.
A escola, nesse contexto,
tem, como alternativa, rever suas ações e o seu papel no aprimoramento da sua
prática educativa. Nesse sentido, uma análise sobre seus conceitos
didático-metodológicos precisa ser feita, de forma a adequar sua postura
pedagógica ao momento atual e principalmente colocar-se na posição de
organização principal e mais importante na evolução dos princípios fundamentais
de uma sociedade. Com tal postura, cumpre-se, assim, sua função transformadora
e idealizadora de conhecimentos científico-filosóficos, pautando o resultado de
suas ações em saber concreto. Segundo
Graziola Júnior (2009, p. 04):
Novos modelos educacionais estão se
desenvolvendo na tentativa de possibilitar novas formas de comunicação e de
interação, que permitam aos sujeitos participarem de um processo de crescimento
de diferenciação, de retomada recíproca de singularidades e de construção de
cidadania. Portanto, além de estudar as novas possibilidades oferecidas pelas
tecnologias digitais, devemos ter presente a profunda necessidade de entender
como ocorre a aprendizagem para poder ser coerente com o modelo epistemológico
adotado.
A
comunicação e a aprendizagem suportadas pelas ferramentas digitais, em
especial, por meio do reconhecimento de que há um novo paradigma tecnológico –
organizado em torno das tecnologias da informação e associado a profundas
transformações sociais, econômicas e culturais – constituem-se em verdadeira
encruzilhada, pois há aí vários mecanismos educacionais, sociais e de poder
impactando a vida e as relações entre seres humanos.
De
forma pragmática, o estudo das práticas de leitura e escrita realizadas na web por estudantes e professores permite
uma reflexão sobre a prática pedagógica dos professores, no que diz respeito ao
reconhecimento de que a web é, por
si, espaço de circulação de culturas, em especial aquelas realizadas por meio
da escrita.
Assim
sendo, novas ações de comunicação e aprendizado se abrem e a educação se torna
nômade e profundamente carregada de múltiplos sentidos para aqueles que a
praticam. Neste contexto, reconhecemos que as práticas de aprendizagem fixas,
isto é, aquelas maneiras de se instruir por meio de ensinamentos fixados na
figura do professor e da escola, deixam de ser o centro da aprendizagem
contemporânea.
A
escrita na tela dos dispositivos móveis se constitui num ato interacional
assimétrico e, às vezes, conflituoso para o escrevente, porque, ao comparar
essa produção com aquela pedida pela escola, explicitamente se notam
diferenciações relacionadas à articulação das palavras no espaço on-line, pois este é carregado de novos
signos. Neste espaço não se seguem normas padronizadas de escrita e esta flui
como se o aluno estivesse simplesmente conversando, e não escrevendo, possibilitando
a construção de novos códigos que, com o surgimento da internet, se tornaram
passíveis de existir.
4.
Análise da
pesquisa
As escolas públicas escolhidas estão
localizadas no perímetro urbano das cidades baianas: Barro Alto, Canarana,
Ibititá, Irecê e São Gabriel. Estas localidades constituem 23,8% das cidades
que compõem a Microrregião de Irecê, cidade considerada pólo de serviços e
negócios para os 20 municípios que a circundam. Ainda segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE –, existem 393.780 habitantes
distribuídos numa área territorial de 27.490,80 km2. De acordo com o
mesmo instituto de pesquisa, as cidades onde realizamos a pesquisa cobrem 4.055
km2, totalizando 14,72% do território, e têm na vegetação
caatinga seu bioma.
As
escolas escolhidas foram escolas públicas situadas na região central das
cidades onde se situam a investigação. Elas recebem estudantes de várias
classes sócio-econômicas. Os participantes da pesquisa são, em sua maioria, filhos
de profissionais liberais, agricultores e funcionários públicos.
No
que concerne à questão de gênero, pudemos perceber, diante dos dados, que a
maioria das classes pesquisadas 60% dos alunos é do sexo feminino. Ressaltamos,
portanto, que essa porcentagem representa metonimicamente o corpo discente
pesquisado, entretanto, não ousaríamos afirmar que esta é a realidade das
escolas públicas da região pesquisada, apenas o reflexo dela.
No
que diz respeito à idade, pudemos situá-los como sendo da geração 90. Trata-se
de “nascidos digitais” por terem suas identidades e amizades vinculadas
baseadas em interesses compartilhados e interação frequente em rede, a qual
permite, por meio dos dispositivos móveis e da internet, o compartilhamento de
informações. Uma coisa é certa: estes alunos “nascidos digitais” se expressam
criativamente e de muitas formas diferentes daquelas que seus pais usavam
quando tinham a mesma idade, pois estes têm o acesso a todo tipo de informação
e culturas, de qualquer parte do mundo, apenas com um click.
A
linguagem codificada presente nas mensagens trocadas pelos participantes da
pesquisa tenciona o modo de escrever, porque coloca em evidência as novas
possibilidades de comunicação na rede. Isto fica caracterizado quando eles usam
elementos semióticos para a construção de suas mensagens.
Os
próprios entrevistados atestam a propriedade das novas tecnologias, como se
pode observar em algumas afirmações: “Uso o celular para falar com minha amiga,
ela é mais velha e pode me ajudar resolver algumas coisas que não entendi
quando a professora falava”, disse uma entrevistada. “Aprendi a ler a linguagem
de torpedo, acho mais fácil e me preocupo com a escrita correta”, falou outra.
Assim,
os dados coletados no campo de pesquisa nos levaram a compreender que os
dispositivos móveis potencializam as interações entre sujeitos de tal modo que
a comunicação virtual permite a descentralização do poder de ensinar e aprender,
até então centralizado na instituição escolar.
5.
Considerações finais
A
M-learning surge como nova
possibilidade para as instituições educacionais e sociais interagirem de modo
significativo, tanto com aqueles que ensinam, quanto com aqueles que aprendem
em rede. Podemos entender ainda que os “nascidos digitais” das escolas públicas
do sertão baiano têm os mesmos desejos de consumo que os mesmos “nascidos
digitais” de outras partes do país, isto é, todos querem acesso à internet
gratuita nos espaços públicos e conexão de banda larga para celular, principal
instrumento móvel de comunicação e interação social.
Por
meio da interação virtual promovida pelos dispositivos móveis, os estudantes declaram
estar “conectados” com o mundo on-line
e, assim, podem acessar e conhecer realidades diferentes daquelas propostas
pelos livros didáticos e pelas mídias tradicionais presentes na região – rádio
e TV.
O
que nos resta agora é compreender que a realidade é outra, o aluno é outro,
logo o professor não pode continuar sendo o mesmo. Por isso cabe ao professor
buscar entrar de vez nesse novo mundo, com o propósito de realizar o seu
trabalho de maneira a conseguir provocar no aluno um interesse pelas aulas de
leitura e produção de texto. Sabemos que não é fácil, pois existem inúmeras
barreiras: infraestruturais, socioculturais, econômicas e políticas. E para que
a mudança ocorra é necessária uma reestruturação de cima a baixo, modificando e
redefinido o processo educativo.
Que
o aluno aprende com as novas tecnologias é um ponto de consenso entre os que as
estudam e as analisam, mas as questões que precisam ser respondidas agora são
referentes a como aplicar em sala de aula essa nova prática pedagógica, levando
em consideração todas as dificuldades elencadas ao logo deste trabalho. Isso
passa por alguns entraves, já que no âmbito das instituições de ensino, há uma
dificuldade em desenvolver e vivenciar práticas pedagógicas efetivamente
inovadoras. E nessa linha de pesquisa realmente há possibilidades para se tentar
uma inovação no trabalho do professor.
É
um caminho difícil e muito trabalhoso, mas que provoca uma imensa satisfação
àquele que conseguir trilhá-lo, já que o torna diferenciado na arte de ensinar
a aprender pelo uso de novas tecnologias móveis com todas as suas
possibilidades de construção do conhecimento.
GRAZIOLA JÚNIOR,
Paulo Gaspar. Aprendizagem com
mobilidade na perspectiva dialógica: reflexões e possibilidades para práticas
pedagógicas. 2009. Disponível
em: http://seer.ufrgs.br/renote/search/results.
Acessado em 16 de abril de 2012.
MACEDO, Alexandra Lorandi, et ali. A concepção do
aluno sobre a própria aprendizagem ao utilizar ambientes virtuais. 2005.
Disponível
em: http://seer.ufrgs.br/renote/search/results.
Acessado em 16 de abril de 2012.
SACCOL,
Amarolinda, et ali. M-learning e
u-learning: novas perspectivas da aprendizagem móvel e umbíqua. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2011.
SANTAELLA,
Lúcia. Navegar no Ciberespaço:o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004.