segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Artigo: MOBILE LEARNING: NOVOS CAMINHOS PARA O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM




MOBILE LEARNING: NOVOS CAMINHOS PARA O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

ABREU, Adelmo Ferreira de.*
BARRETO, Robério Pereira.**


RESUMO: Neste artigo se busca refletir acerca de resultados de uma pesquisa realizada com estudantes do 9º ano do ensino fundamental das escolas públicas de Irecê e região, referente à utilização de novas tecnologias digitais móveis e sem fio para produzirem e socializarem mensagens de textos. Neste processo, objetiva-se compreender como as novas tecnologias podem contribuir para o processo de ensino e aprendizagem através de práticas pedagógicas voltadas para a dialogicidade, a partir das quais o professor assume o papel de mediador na construção do conhecimento.  Diante disso, materializam-se inquietações sobre como aplicar em sala de aula essa nova prática pedagógica, levando em consideração todas as dificuldades oriundas das novas tecnologias, e como superar as dificuldades em desenvolver e vivenciar práticas pedagógicas efetivamente inovadoras dentro das instituições de ensino. E é justamente por essa linha de investigação que se pretende seguir para propor uma reflexão sobre as possibilidades de inovação no trabalho do professor.


PALAVRAS-CHAVES: M-Learning, Aprendizagem, Ensino e Educação.


1.      Introdução

Um dos desafios do século XXI é encontrar novos caminhos para tornar os profissionais cada vez mais preparados para diagnosticar, buscar respostas e solucionar problemas. Viver e conviver em um mundo cada vez mais globalizado e informatizado, conectado em uma grande rede, traz consequências importantes no processo de ensinar e de aprender, tanto nos contextos formais quanto nos contextos não formais de educação.
Em meio a tudo isso, percebemos que a escola ainda não se encontra preparada, logo, as novas tecnologias precisam ser melhor compreendidas, melhor avaliadas para ampliar e adequar as práticas pedagógicas e também o processo de ensino e aprendizagem, visando à formação deste novo sujeito para suprir a demanda do mercado de trabalho. Essa nova realidade aí instalada exige novos métodos e maneiras de se trabalhar em educação, mas também, a maneira de preparar o sujeito para a sociedade, para o mundo do trabalho e para o aprendizado contínuo.
O presente trabalho tem como metodologia a pesquisa bibliográfica, tomando como base uma pesquisa elaborada nas escolas municipais da microrregião de Irecê. Estudos sobre práticas educacionais e aprendizagem significativa no contexto das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) correspondem a todas as tecnologias que interferem e medeiam os processos informacionais e comunicativos dos seres. Nesse contexto se inclui também o M-learning, termo que, segundo Saccol (2011), é um conceito atual, não havendo consenso nem mesmo nos centros acadêmicos a respeito de sua significação. Propondo uma melhor definição, Saccol (2011, p. 25) apresenta o seguinte conceito:

O m-learning (aprendizagem móvel ou com mobilidade) se refere a processos de aprendizagem apoiados pelo uso de tecnologias da informação ou comunicação móveis e sem fio, cuja característica fundamental é a mobilidade dos aprendizes, que podem estar distante uns dos outros e também de espaços formais de educação, tais como salas de aula, salas de formação capacitação e treinamento ou local de trabalho.

A partir destes conceitos, partimos para um trabalho de pesquisa para o qual foram entrevistados em média 10 alunos do 9º ano do ensino fundamental das escolas municipais de Barro Alto, Canarana, Ibititá, Irecê e São Gabriel. Para cada aluno entrevistado foi feita a seguinte pergunta: Quando você envia mensagem de texto pelo celular, você aprende alguma coisa? Sim ou Não? Por quê?
A partir desses questionamentos, buscamos identificar que a compreensão de que os dispositivos móveis usados pelos jovens das escolas públicas de Irecê e Região são considerados por nós, nessa pesquisa, como a base instrumental para o processo sociossemiótico. Isso certifica a comunicação que, por sua vez, assegura aprendizagens para além daquelas postuladas pela escola.
Assim desenvolveremos, neste contínuo, a seguinte perspectiva: os dispositivos móveis são instrumentos competidores, e não concorrentes, de interação e comunicação e, portanto, levam a M-Learning. Firmamos que o debate é parcialmente filosófico com enclaves linguísticos, educacionais e pedagógicos, voltados aos aspectos tecnológicos da educação contemporânea e em rede.
Em seguida partimos para uma nova abordagem, que é como utilizar, de maneira significativa, a habilidade que estes alunos de escolas públicas têm de forma a contribuir com as práticas pedagógicas aplicadas em sala de aula. E neste ponto encontra-se uma série de obstáculos que se enfrentam quando se pretende inovar na implantação de novos métodos que facilitam a aprendizagem.
Buscamos compreender o processo de ensino e aprendizagem como um processo de construção e reconstrução, tomando consciência do conteúdo abordado por meio dos erros e acertos, e não como na educação conservadora, na qual o professor é o centro e dono do conhecimento e simplesmente o transfere ao educando.

2.      Fundamentação teórica

Para compreender todo esse processo de ensino e aprendizagem com base nas novas tecnologias, fomos buscar uma compreensão do que venha a ser o ciberespaço. Segundo Santaella:
O ciberespaço se refere a um sistema de comunicação eletrônica global que reúne os humanos e os computadores em uma relação simbiótica que cresce exponencialmente graças à comunicação interativa. É o espaço que se abre quando o individuo acessa a rede. Por isso mesmo, esse espaço também inclui os usuários dos aparelhos sem fio, na medida em que esses aparelhos permitem a conexão e troca de informação (SANTAELLA, 2004, P. 45).

A partir desta definição do que venha a ser o ciberespaço, partimos para entender como se dá o aprendizado por meio do uso das novas tecnologias, uma vez que, por meio deste aparelho celular, é possível acessar todas as redes sociais, tendo este quase a função de um computador de mão.
Segundo Graziola Júnior (2009) na perspectiva da educação digital, numa concepção interacionista, o aluno deixa de ser o receptor de informações para torna-se o co-responsável pela construção de seu conhecimento, usando o celular e diferentes tecnologias digitais para buscar, selecionar, interrelacionar informações significativas na exploração, reflexão, representação e depuração de suas próprias ideias, de acordo com seu estilo de pensamento.
Ainda a respeito de como se dá a aprendizagem para Saccol (2011) no m-learning, a informação, a aprendizagem e o conhecimento surgem num imbricamento. Logo, em determinados momentos, o indivíduo, ao se sentir perturbado por alguma situação externa, busca informação e, a partir disso, articula-se rapidamente com seus pares, nas redes das quais participa, de forma que possa construir o conhecimento relativo àquela situação, ou seja, aprender.
Nesta concepção a aprendizagem se dá nas relações sociais nas quais o sujeito se insere. Para Saccol (2011) não basta termos acesso ao conteúdo em qualquer lugar e a qualquer momento, pois, para que a aprendizagem ocorra, é necessário que o sujeito tenha espaços e tempos hábeis para ler, estudar, agir e interagir. As mudanças tecnológicas por si só não provocam variações na educação, mas a forma como as pessoas vão utilizá-las é que vai provocar esta transformação.
Os professores devem estar atentos à forma como os alunos utilizam as novas tecnologias e orientá-los no sentido de melhorar o acesso às informações, buscando um melhor aprendizado por parte deles. Só a partir daí teremos cidadãos capacitados de maneira significativa para pensar, solucionar problemas e viver em uma sociedade completamente informatizada, de forma consciente, podendo desfrutar de todos os recursos que ela oferece.
Saccol (2011) afirma ainda que só assim pode se pensar em novas práticas pedagógicas pautadas nas teorias que fundamentam a aprendizagem e o desenvolvimento humano. Nesta mesma linha de raciocínio, Graziola Júnior (2009) pontua que, ao compreender a ação pedagógica como articulada a uma educação como prática social e ao conhecimento como produção histórica e cultural, datado e situado, entendemos que a educação precisa necessariamente contemplar, em suas práticas pedagógicas, o uso de diferentes tecnologias digitais.
Macedo (2005) ratifica que os novos tempos e espaços proporcionados pelo virtual favorecem um novo fluxo de discussões e reflexões acerca das temáticas propostas, que é o ensino a distância. Diante disso, busca evidenciar que, diante do novo contexto social, não se pode imaginar uma educação que não esteja interrelacionada com as novas tecnologias. Para este autor, a aprendizagem não significa aprender porque alguém transmite o conhecimento, mas sim um processo de fazer e refazer num jogo árduo de erros e acertos, culminando em uma tomada de consciência do próprio desenvolvimento por parte do educando.
Alexandra Lorandi Macedo (2005) esclarece que o acesso não linear, a bifurcação dos assuntos desenvolvidos, a releitura e o igual poder de argumentação dado a todos que pertencem ao grupo proporcionam uma mudança de comportamento. É nesta mudança que se vai provocando uma nova maneira de se ensinar e de aprender e é neste ponto que entra a nossa discussão de que o aluno, ao enviar e receber mensagem através de seus aparelhos celulares, passa a construir um conhecimento. No entanto, é necessário que haja uma mudança radical tanto na formação do professor, quanto na infraestrutura das escolas, para que se possa acatar essa nova realidade.
A trama de interações construída no virtual faz com que o processo de aprendizagem de cada indivíduo seja respeitado. Para tanto é necessário que todos os envolvidos no processo da educação estejam dispostos a se envolver completamente nesta mudança.
Com efeito, através dos diálogos com teóricos da Educação, das TIC e da Linguagem, bem como da interpretação de dados oferecidos pelos participantes através de suas informações verbais e das produções escritas na web, espera-se apresentar uma proposta metodológica fundamentada epistemologicamente no conceito de novos estudos de letramento. O propósito é refletir sobre a possibilidade do reconhecimento de que os estudantes – nascidos digitais – devem ser orientados para novas práticas de leitura e escrita em que o uso do computador e da internet facilitem práticas interacionais e dialógicas com os professores.

3.      A aprendizagem: necessidade de novas práticas com os dispositivos

Este texto nasce de inquietações sobre a não utilização efetiva de dispositivos móveis por parte dos professores da educação básica das escolas públicas de Irecê - BA e Microrregião. No presente contexto histórico, é considerável a popularização de equipamentos móveis, tais como telefones celulares, smartphones, aparelhos de MP3, MP4, tablets, entre muitos outros, como instrumentos tecnológicos facilitadores de aprendizagem e interação entre estudantes e a escrita presente na web. Diante dessa realidade, é relevante compreender em que medida práticas pedagógicas com gêneros textuais múltiplos produzidos no, para e pelos dispositivos móveis ampliariam os horizontes de estudantes e professores no que diz respeito a práticas diversas com textos e de que modo as práticas pedagógicas até então usadas pelos professores potencializam a escrita e a leitura de textos na e da web pelos estudantes. Segundo Saccol (2011, p. 18), as novas tecnologias:

[...] oferecem um conjunto de possibilidades para a aprendizagem, permitindo, por exemplo, nossa interação com professores ou instrutores, bem como colegas ou outros indivíduos com os quais desejamos trocar informações, compartilhar ideias e experiências ou resolver dúvidas. Além disso, podemos acessar uma vasta gama de recursos e materiais didáticos, incluindo não somente texto, mas também imagem, áudio, vídeo, além de todas as possibilidades de integração de múltiplas mídias. Podemos inclusive utilizar toda a ampla gama de recursos que a internet nos oferece para aprendizagem, incluindo e-books, artigos, vídeos, notícias on-line, conteúdos de blogs, microblogs, jogos etc.

Como podemos observar, são infinitas as possibilidades de aprendizagens que esta nova realidade social nos oferece. A questão central agora é se o professor está preparado para esta nova realidade. Também é relevante investigar se a infraestrutura educacional do nosso país tem capacidade ou interesse de acompanhar todas essas modificações. Todavia, não se pode deixar de considerar que os alunos estão vivendo esta nova realidade um passo à frente da realidade em que vivem boa parte dos professores.
Podemos observar certo interesse de governantes, quando estes desenvolvem projetos nos quais buscam incluir digitalmente os alunos das redes públicas. Um destes é o UPA (um computador por aluno), mas em alguns casos esses computadores chegam e ficam sem uso por falta de professores preparados para manuseá-los.
É consenso o entendimento de que, por meio das novas tecnologias da comunicação, se criou um ambiente de interação e comunicação global, portanto, esse novo contexto permite a reformulação de conceitos e técnicas de pesquisa, ensino e aprendizagem. Assim os cenários educacionais são construídos por um conjunto de variáveis que os definem. A entrada em cena dos dispositivos móveis modifica radicalmente as velhas variáveis e leva os processos educacionais e comunicativos para além das paredes da escola. Isto certamente leva ao deslocamento dos procedimentos de pesquisa baseados em modelos cristalizados pela etnografia ortodoxa.
Ao enviar ou receber uma mensagem de texto, o aluno escreve ou lê, decodifica, interpreta, participa, mobiliza seu intelecto de muitas maneiras, fazendo com que o processo de aprendizagem aconteça. Para Saccol (2011, p. 20) “os aprendizes não mais precisam ficar limitados a um espaço fixo ou formal de aprendizagem”, enquanto que a maioria dos professores das escolas públicas não aceita sequer que os alunos liguem os seus aparelhos celulares dentro das salas de aula. Estes mesmos professores ministram suas aulas presos no passado com uma metodologia de ensino ultrapassada, tornando os momentos em classe pouco produtivos para o aprendizado dos alunos.
O fato de pertencer a uma comunidade de interação e interpretação de unidades semiótica e textual, os jovens que utilizam os dispositivos móveis para interação on-line provocam, nos outros agentes comunicativos, aprendizagens emuladoras de sentidos, visto que ambos são estimulados, a cada mensagem, a refletir sobre o tema proposto. Os dispositivos móveis à disposição dos estudantes constituem-se, portanto, como instrumentos cuja produção resultante é a interação verbal e comunicação contínua, através da qual novos aprendizados são compartilhados.
Diante do exposto, parte-se da premissa de que a sociedade contemporânea, organizada nos fundamentos das TIC, tem desconstruído vários paradigmas e ideias, inclusive a de educação centrada somente na figura do professor, bem como o modus de adquirir e produzir linguagens escritas, restringindo-se ao âmbito das aulas de redação. Essas posturas têm sido confrontadas pela prática cotidiana de interação escrita dos estudantes através do acesso ao computador e celular.
Segundo Saccol (2011, p. 100), o m-learning vai adquirindo diferentes nuanças, tão diferenciadas e específicas “quanto as possibilidades tecnológicas, epistemológicas e metodológicas evidenciando diversas formas de atividades e situações pedagógicas para impulsionar o desenvolvimento cognitivo, sociocognitivo e metacognitivo dos sujeitos”.
De acordo com Barreto (2005), o texto produzido por meio de dispositivos móveis carrega em si (e, como ele, significa e adquire) aquele significado outro, posto que os não-ditos presentes na linguagem constituem um novo centro de compreensão para o sujeito. Este, por sua vez, interpreta a mensagem de um lugar histórico e a reconfigura de acordo com as suas realidades, em virtude de haver, nos dispositivos móveis, a conexão para a web. Desse modo, o espaço virtual passa a ser disponibilizado para a prática de leitura e de escrita sem que, necessariamente, se aplique o rigor das redações escolares, tampouco se exige a presença do professor como único conhecedor e controlador do que pode e o que não pode ser escrito ou lido.
Os dispositivos móveis nos quais a web, por meio de redes sociais, possibilita ações de letramentos são múltiplos. Isto leva à inquietação que se evidencia em professores que não acompanham as mudanças no modo de ler e de escrever dos estudantes conectados ao mundo digital. Essa inquietação poderia ser aproveitada para a inclusão docente nessas novas atividades de ensino se a escola já tivesse tomado tais produções como práticas contemporâneas de socialização de conhecimentos diversos (M-Learning), nas quais as ações interativas entre sujeitos acontecem por meio da efetiva produção textual em rede.
Em virtude da complexidade da questão, objetiva-se estabelecer os pontos de tensão existentes na prática pedagógica dos professores – imigrantes digitais – que, atuando de modo racionalista, realizam suas atividades de ensino de leitura e de escrita, baseando-se no racionalismo da gramática da língua: começo, meio e fim.  Por outro lado, os estudantes – nascidos digitais – praticam leitura e escrita na web de maneira dialógica, a partir da qual não há linearidade de leitura, tampouco simetria no raciocínio escrito, o que propicia a constituição de novos códigos.
Dessa maneira, a investigação baseia-se nos princípios da dialogicidade e da interação com os dados e os participantes da investigação, de modo que estes últimos determinaram a metodologia da pesquisa, porque foram agentes autorais de suas escritas. Isso, de certo modo, nos levou a transitar entre a etnografia clássica e a virtual.
Nesta senda se tem como expectativa que professores do ensino básico das escolas públicas interatuem com práticas de leitura e escrita, realizadas pelos estudantes na Web. Com isso terão ampliadas suas bagagens teóricas e metodológicas, bem como poderão articular práticas pedagógicas inovadoras voltadas ao ensino de leitura e escrita para além do espaço fechado de sala de aula. Isso propicia modificar o cenário de aulas de redação desarticuladas da realidade social e cultural dos aprendizes, autores e produtores de textos cujos sentidos incluem uns aos outros no sistema comunicacional da web.
A escola, nesse contexto, tem, como alternativa, rever suas ações e o seu papel no aprimoramento da sua prática educativa. Nesse sentido, uma análise sobre seus conceitos didático-metodológicos precisa ser feita, de forma a adequar sua postura pedagógica ao momento atual e principalmente colocar-se na posição de organização principal e mais importante na evolução dos princípios fundamentais de uma sociedade. Com tal postura, cumpre-se, assim, sua função transformadora e idealizadora de conhecimentos científico-filosóficos, pautando o resultado de suas ações em saber concreto. Segundo Graziola Júnior (2009, p. 04):

Novos modelos educacionais estão se desenvolvendo na tentativa de possibilitar novas formas de comunicação e de interação, que permitam aos sujeitos participarem de um processo de crescimento de diferenciação, de retomada recíproca de singularidades e de construção de cidadania. Portanto, além de estudar as novas possibilidades oferecidas pelas tecnologias digitais, devemos ter presente a profunda necessidade de entender como ocorre a aprendizagem para poder ser coerente com o modelo epistemológico adotado.

A comunicação e a aprendizagem suportadas pelas ferramentas digitais, em especial, por meio do reconhecimento de que há um novo paradigma tecnológico – organizado em torno das tecnologias da informação e associado a profundas transformações sociais, econômicas e culturais – constituem-se em verdadeira encruzilhada, pois há aí vários mecanismos educacionais, sociais e de poder impactando a vida e as relações entre seres humanos.
De forma pragmática, o estudo das práticas de leitura e escrita realizadas na web por estudantes e professores permite uma reflexão sobre a prática pedagógica dos professores, no que diz respeito ao reconhecimento de que a web é, por si, espaço de circulação de culturas, em especial aquelas realizadas por meio da escrita.
Assim sendo, novas ações de comunicação e aprendizado se abrem e a educação se torna nômade e profundamente carregada de múltiplos sentidos para aqueles que a praticam. Neste contexto, reconhecemos que as práticas de aprendizagem fixas, isto é, aquelas maneiras de se instruir por meio de ensinamentos fixados na figura do professor e da escola, deixam de ser o centro da aprendizagem contemporânea.
A escrita na tela dos dispositivos móveis se constitui num ato interacional assimétrico e, às vezes, conflituoso para o escrevente, porque, ao comparar essa produção com aquela pedida pela escola, explicitamente se notam diferenciações relacionadas à articulação das palavras no espaço on-line, pois este é carregado de novos signos. Neste espaço não se seguem normas padronizadas de escrita e esta flui como se o aluno estivesse simplesmente conversando, e não escrevendo, possibilitando a construção de novos códigos que, com o surgimento da internet, se tornaram passíveis de existir.

4.      Análise da pesquisa

As escolas públicas escolhidas estão localizadas no perímetro urbano das cidades baianas: Barro Alto, Canarana, Ibititá, Irecê e São Gabriel. Estas localidades constituem 23,8% das cidades que compõem a Microrregião de Irecê, cidade considerada pólo de serviços e negócios para os 20 municípios que a circundam. Ainda segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE –, existem 393.780 habitantes distribuídos numa área territorial de 27.490,80 km2. De acordo com o mesmo instituto de pesquisa, as cidades onde realizamos a pesquisa cobrem 4.055 km2, totalizando 14,72% do território, e têm na vegetação caatinga seu bioma.
As escolas escolhidas foram escolas públicas situadas na região central das cidades onde se situam a investigação. Elas recebem estudantes de várias classes sócio-econômicas. Os participantes da pesquisa são, em sua maioria, filhos de profissionais liberais, agricultores e funcionários públicos.
No que concerne à questão de gênero, pudemos perceber, diante dos dados, que a maioria das classes pesquisadas 60% dos alunos é do sexo feminino. Ressaltamos, portanto, que essa porcentagem representa metonimicamente o corpo discente pesquisado, entretanto, não ousaríamos afirmar que esta é a realidade das escolas públicas da região pesquisada, apenas o reflexo dela.
No que diz respeito à idade, pudemos situá-los como sendo da geração 90. Trata-se de “nascidos digitais” por terem suas identidades e amizades vinculadas baseadas em interesses compartilhados e interação frequente em rede, a qual permite, por meio dos dispositivos móveis e da internet, o compartilhamento de informações. Uma coisa é certa: estes alunos “nascidos digitais” se expressam criativamente e de muitas formas diferentes daquelas que seus pais usavam quando tinham a mesma idade, pois estes têm o acesso a todo tipo de informação e culturas, de qualquer parte do mundo, apenas com um click.
A linguagem codificada presente nas mensagens trocadas pelos participantes da pesquisa tenciona o modo de escrever, porque coloca em evidência as novas possibilidades de comunicação na rede. Isto fica caracterizado quando eles usam elementos semióticos para a construção de suas mensagens.
Os próprios entrevistados atestam a propriedade das novas tecnologias, como se pode observar em algumas afirmações: “Uso o celular para falar com minha amiga, ela é mais velha e pode me ajudar resolver algumas coisas que não entendi quando a professora falava”, disse uma entrevistada. “Aprendi a ler a linguagem de torpedo, acho mais fácil e me preocupo com a escrita correta”, falou outra.
Assim, os dados coletados no campo de pesquisa nos levaram a compreender que os dispositivos móveis potencializam as interações entre sujeitos de tal modo que a comunicação virtual permite a descentralização do poder de ensinar e aprender, até então centralizado na instituição escolar.

5.      Considerações finais

A M-learning surge como nova possibilidade para as instituições educacionais e sociais interagirem de modo significativo, tanto com aqueles que ensinam, quanto com aqueles que aprendem em rede. Podemos entender ainda que os “nascidos digitais” das escolas públicas do sertão baiano têm os mesmos desejos de consumo que os mesmos “nascidos digitais” de outras partes do país, isto é, todos querem acesso à internet gratuita nos espaços públicos e conexão de banda larga para celular, principal instrumento móvel de comunicação e interação social.
Por meio da interação virtual promovida pelos dispositivos móveis, os estudantes declaram estar “conectados” com o mundo on-line e, assim, podem acessar e conhecer realidades diferentes daquelas propostas pelos livros didáticos e pelas mídias tradicionais presentes na região – rádio e TV.
O que nos resta agora é compreender que a realidade é outra, o aluno é outro, logo o professor não pode continuar sendo o mesmo. Por isso cabe ao professor buscar entrar de vez nesse novo mundo, com o propósito de realizar o seu trabalho de maneira a conseguir provocar no aluno um interesse pelas aulas de leitura e produção de texto. Sabemos que não é fácil, pois existem inúmeras barreiras: infraestruturais, socioculturais, econômicas e políticas. E para que a mudança ocorra é necessária uma reestruturação de cima a baixo, modificando e redefinido o processo educativo.
Que o aluno aprende com as novas tecnologias é um ponto de consenso entre os que as estudam e as analisam, mas as questões que precisam ser respondidas agora são referentes a como aplicar em sala de aula essa nova prática pedagógica, levando em consideração todas as dificuldades elencadas ao logo deste trabalho. Isso passa por alguns entraves, já que no âmbito das instituições de ensino, há uma dificuldade em desenvolver e vivenciar práticas pedagógicas efetivamente inovadoras. E nessa linha de pesquisa realmente há possibilidades para se tentar uma inovação no trabalho do professor.
É um caminho difícil e muito trabalhoso, mas que provoca uma imensa satisfação àquele que conseguir trilhá-lo, já que o torna diferenciado na arte de ensinar a aprender pelo uso de novas tecnologias móveis com todas as suas possibilidades de construção do conhecimento.


























REFERÊNCIAS


BARRETO, Robério Pereira. Ciberdiscurso e interculturalidade na web. Tangará da Serra, MT, Editora Tangará, 2005.

GRAZIOLA JÚNIOR, Paulo Gaspar. Aprendizagem com mobilidade na perspectiva dialógica: reflexões e possibilidades para práticas pedagógicas. 2009. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/renote/search/results. Acessado em 16 de abril de 2012.

MACEDO, Alexandra Lorandi, et ali. A concepção do aluno sobre a própria aprendizagem ao utilizar ambientes virtuais. 2005. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/renote/search/results. Acessado em 16 de abril de 2012.

SACCOL, Amarolinda, et ali. M-learning e u-learning: novas perspectivas da aprendizagem móvel e umbíqua. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.

SANTAELLA, Lúcia. Navegar no Ciberespaço:o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004.






quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Sou...

Sou silêncio, melodia... vento forte, calmaria. Sou inverno, primavera... outono, verão. Sou gestos, palavras... riso, pranto. Sou tristeza, alegria... solidão, companhia.  Sou simples, complexa. Sou poesia!
  
Iara Diane Souza

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Resenha sobre Luanda: Violência e Escrita



UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS (DCHT)
CAMPUS XVI- IRECÊ
CURSO DE LETRAS








RESENHA SOBRE LUANDA: VIOLÊNCIA E ESCRITA



Resenha solicitada pelo professor Orlando Freire, como requisito de avaliação da disciplina Tradição e Ruptura em Literaturas de Língua Portuguesa.

 







Aluno: Rafael Mendes[1]







IRECÊ, agosto de 2012


MACÊDO, Tania. Luanda: violência e escrita. In: CHAVES, Rita; MACÊDO, Tania (org.). Marcas da diferença: as literaturas africanas de língua portuguesa- São Paulo: Alameda, 2006.

Biografia da Autora:
Tania Celestina Macêdo concluiu o doutorado em Letras pela Universidade de São Paulo em 1990. Aposentou-se pela UNESP-Campus de Assis. Atualmente e professora titular onde leciona Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. É diretora do Centro de Estudos Africanos da USP e Secretária-Geral do Instituto Casa das Áfricas. Publicou 13 artigos em periódicos especializados e 24 trabalhos e anais de eventos. Possui 15 capítulos de livros e 7 livros publicados. Possui 57 itens de produção técnica. Participou de 14 eventos no exterior e 52 no Brasil.

Luanda: violência e escrita tem como principais pontos em questão o processo de colonização, e o surgimento da literatura angolana que acontece em Luanda e mostra exemplos de obras dos autores deste local.
O texto evidencia os contrastes de Luanda, que a princípio quando visitada por turistas, os mesmos não conseguem perceber as diferenças existentes neste local. Após a independência, começaram fazer construções modernas que demonstram o lado exuberante da cidade e belezas naturais que a possui. Contrapondo a visão anterior, é destacada uma realidade que retrata o grande número de crianças na rua, em meio aos carros de luxo e casas bem estruturadas. Também neste sentido as favelas crescem em locais irregulares onde não há condições básicas de saneamento, aumentando a incidência de doenças.
 E meio a essas diferenças é importante ressaltar que Luanda por possuir cerca de um terço da população angolana e sediar os principais meios de comunicação tanto escritos como também visuais e sonoros, é considerada o centro literário de Angola. Torna-se visível que a literatura de um determinado local evolui de acordo com imaginário sobre as cidades, o texto traz o exemplo do Brasil que teve inicialmente Salvador depois Ouro Preto e em seguida Rio de Janeiro como principais berços literários do país. Luanda consegue manter-se como principal cidade literária de Angola por nela encontrar-se os principais jornais que circulam por todo o país.
Quanto às expressões adversas, os autores angolanos começam a se manifestar a respeito da denominação “baixo”, que representa a cidade dos brancos e “musseque”, local dos negros, por meio de obras que relatam as diferenças. É aceitável que a construção do messeque literário é destinada às pessoas deste cotidiano a fim de aproximar da realidade que foi o colonialismo no processo histórico. Os autores da literatura angolana passam registrar através dos livros, as situações humilhantes que passavam os colonizados. Também é feita uma comparação entre as obras “náuseas” de Agostinho Neto e “o elevador“ de João Melo (2001). Os autores representam de formas opostas o mesmo tema em questão.
O estudo da literatura africana dos países de língua portuguesa estabelece grande importância para o conhecimento amplo sobre língua que falamos. É um fator a ser aprofundado por ser algo convivente na sociedade e para que possa se entender dialetos provenientes das línguas africanas que foram fixados na língua portuguesa. O texto referido a Luanda nos traz relatos das condições a que os colonizados foram submetidos, e evidencia o motivo pelo qual ela é considerada o berço da literatura angolana.
O texto sobre Luanda: violência e escrita, propícia o entendimento sobre o processo histórico da colonização, além do surgimento da literatura em angola. É aconselhável a leitura para todos que têm interesse em ampliar seus conhecimentos literários e sociais.



[1]Acadêmico do segundo período do curso de Letras da Universidade do Estado da Bahia.